Rogério Ceni: Análise Profunda do Bahia, Elenco e Desafios da Copa do Nordeste

Após a vitória por 3 a 1 sobre o Náutico, que assegurou ao Bahia a liderança geral na fase de grupos da Copa do Nordeste, o técnico Rogério Ceni concedeu uma entrevista coletiva que transcendeu a análise do jogo. Suas declarações revelaram uma perspectiva aprofundada sobre a gestão do elenco, os desafios inerentes ao calendário do futebol brasileiro e a filosofia de desenvolvimento do clube.

O resultado, obtido com um time alternativo no meio de semana e com reservas na partida decisiva, serviu como um atestado da capacidade do grupo em lidar com a intensidade do calendário. Ceni enfatizou a importância de oferecer descanso aos atletas principais, uma estratégia vital para a sustentação do desempenho ao longo de uma temporada exaustiva.

O Planejamento da Temporada e a Gestão de Atletas

A avaliação da primeira metade da temporada, segundo o comandante tricolor, aponta para uma trajetória ascendente em comparação com os anos anteriores. Contudo, a lamentação pela saída da Libertadores ecoa, evidenciando a ambição de patamares mais elevados. A equipe, embora tenha demonstrado futebol para competir em alto nível, não logrou o avanço desejado, o que a direciona agora para a Sul-Americana, onde os confrontos, como o aguardado embate contra o América de Cali, prometem ser igualmente exigentes.

A montagem de um elenco robusto e versátil é uma prioridade, permitindo a rotação de jogadores sem perda significativa de qualidade. Esse modelo se mostra crucial diante de um calendário que impõe jogos a cada três dias, exigindo que todos os membros do plantel mantenham o ritmo de jogo e estejam aptos a contribuir. As ausências por lesão, como as de Erick e Kanu, reforçam a necessidade de profundidade no grupo.

O próximo desafio do Bahia será contra o Bragantino, pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida, que antecede a pausa para a Copa do Mundo de Clubes, é vista como um marco essencial para o clube romper a barreira dos 20 pontos e se consolidar no G-6 antes do recesso. A estratégia para este confronto é clara: buscar a vitória para solidificar a posição na tabela.

Foto: (Fernando Moreno/AGIF)

O Dilema da Copa do Nordeste e o Calendário Apertado

A classificação para as quartas de final da Copa do Nordeste, com um confronto direto contra o Fortaleza em Salvador, coloca o Bahia diante de um cenário complexo. Ceni não hesita em classificar os jogos como "Pesado", reconhecendo a força dos adversários regionais como Ceará e Sport. A questão central, no entanto, reside na incompatibilidade de datas com outras competições consideradas prioritárias.

"Copa do Nordeste é muito legal, mas desde que seja paralela ao estadual. Ainda mais enfiando em datas em que não temos o mínimo tempo de descanso para jogar as outras competições."

Essa é a crítica veemente do treinador, que aponta para a dificuldade de conciliar a Copa do Nordeste com o Brasileirão, a Sul-Americana e a Copa do Brasil, especialmente quando o time não desfruta de semanas livres, ao contrário de alguns de seus concorrentes. A iminência de nove ou dez jogos em um período de 30 dias exige um planejamento minucioso e, por vezes, escolhas difíceis sobre quais competições receberão o foco principal.

Destaques Individuais e o Valor da Base

A vitória recente também abriu espaço para a exaltação de talentos individuais, com destaque para Tiago, autor de dois gols na partida contra o Náutico. Rogério Ceni revelou que o jovem vem se adaptando a uma nova função há alguns meses, demonstrando notável evolução.

"Em relação ao Tiago, vem treinando nessa função há três ou quatro meses comigo. Ele não é dessa função de ofício, mas tem mostrado evolução, não só pelos gols."

A dedicação e a boa vontade de Tiago em desempenhar uma função que não é sua de origem foram enaltecidas, ressaltando sua contribuição em marcação e pressão. A atuação do jovem valida o trabalho da categoria de base, servindo de inspiração para os atletas que sonham em alcançar o time principal. Ceni reforçou a importância de resgatar uma base cada vez mais forte, com o objetivo de que, no futuro, uma parcela significativa do elenco profissional seja formada por jogadores oriundos das categorias inferiores.

Outro ponto de análise foi a situação de Lucho, cujo desempenho gerou debates e até cobranças da torcida. Ceni abordou o tema com sensibilidade, reconhecendo a pressão que o jogador enfrenta e reafirmando o apoio do clube. O treinador mencionou a intenção de explorar Lucho em uma função mais lateral, conforme o próprio atleta manifestou desejo, mas sem descartar sua contribuição como "camisa 9" quando necessário. A resiliência e a dedicação do jogador são fundamentais para superar este momento.

Michel Araujo, por sua vez, foi avaliado como um jogador de grande utilidade no meio-campo, setor de alta concorrência. Apesar de ter enfrentado lesões, ele tem demonstrado boa recuperação e técnica. A observação de Ceni é que ele ainda pode evoluir, especialmente na agilidade com a bola, mas sua força e versatilidade são ativos importantes para a equipe.

A integração da base também foi exemplificada pela atuação de Jota, que ganhou minutos em campo e se destacou. Sua elegância e bom trabalho com a bola foram elogiados, e o clube confirmou a intenção de exercer a cláusula de renovação de seu contrato até dezembro de 2027. A aposta na formação de atletas se mostra, inclusive, como uma alternativa estratégica diante dos custos de contratação e das lesões.

A Janela de Transferências e a Realidade Orçamentária

A iminente janela de transferências foi outro tema abordado com franqueza. Ceni esclareceu que esta será uma "janela de ajustes, não de investimentos" maciços. A conversa diária com a diretoria reflete a busca por uma ou duas peças pontuais que possam suprir carências específicas do elenco , sempre dentro das diretrizes orçamentárias estabelecidas.

A realidade financeira, muitas vezes idealizada pelo público, foi desmistificada pelo treinador. Não há "dinheiro infinito", e a gestão responsável dos recursos é primordial para a sustentabilidade do clube a longo prazo. O foco está em construir uma estrutura sólida, que, embora possa não garantir títulos imediatos, pavimenta o caminho para a constância e o sucesso futuro. A colaboração com o Grupo City visa justamente fortalecer o Bahia para que ele possa competir e conquistar títulos importantes de forma sustentável.

A busca por reforços, portanto, será criteriosa, visando atender às expectativas da torcida com jogadores que se encaixem na filosofia e no orçamento do clube. A visão de Rogério Ceni é a de um clube que cresce de forma consciente, equilibrando ambição esportiva com a realidade financeira e a valorização de seus próprios talentos.