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Bahia: Recorde de Jogos, Disparada de Lesões e o Desafio do Calendário Brasileiro
Por Redação FutBahia em 24/05/2025 04:11
O futebol brasileiro, conhecido por seu calendário implacável, expõe anualmente o limite físico dos atletas. A temporada de 2025, em particular, tem sido um teste de resistência para muitos clubes, e o Esporte Clube Bahia emerge como um dos exemplos mais emblemáticos dessa realidade. A recente confirmação da lesão do volante Erick, às vésperas de um confronto decisivo pela Libertadores contra o Internacional, não é um incidente isolado, mas sim um sintoma preocupante de um problema sistêmico que afeta o Tricolor de Aço.
O Impacto Inevitável de um Calendário Asfixiante
A sobrecarga de partidas é, sem dúvida, o fator mais evidente para explicar o aumento notável de problemas físicos no elenco baiano. O Bahia ostenta o ingrato título de equipe com o maior número de jogos disputados no cenário nacional. No embate contra o Grêmio, agendado para este domingo, o Esquadrão alcançará a marca de 39 partidas no ano, o que se traduz em uma média de um compromisso a cada 3,3 dias. Essa cadência vertiginosa exige um nível de recuperação e preparação física que desafia os limites do corpo humano.
A intensidade não se restringe apenas ao número de confrontos. Os jogos de 2025 têm apresentado uma demanda física superior, especialmente pela participação na Conmebol Libertadores, que impõe um ritmo e uma exigência tática e física mais elevados. Além disso, o aumento da quilometragem percorrida em deslocamentos, com viagens internacionais e a necessidade de se adaptar a diferentes fusos e ambientes, contribui significativamente para o desgaste acumulado.
A comparação com outros clubes da Série A evidencia a singularidade da situação do Bahia em termos de volume de jogos:
Clube | Partidas Disputadas (até 24/05) |
---|---|
Bahia | 38 |
Vitória e Corinthians | 36 |
Fluminense | 33 |
Flamengo, Palmeiras e Fortaleza | 32 |
Sport e Vasco | 31 |
Atlético-MG, Grêmio, São Paulo e Botafogo | 30 |
Ceará e Internacional | 28 |
Cruzeiro e Bragantino | 26 |
Santos | 25 |
Mirassol | 22 |

O Alerta nas Estatísticas: Lesões em Ascensão
O levantamento de Leandro Silva, do Gato Mestre, revela um cenário alarmante: a lesão de Erick é a 15ª registrada pelo Tricolor nesta temporada. Esse número representa quase o dobro das oito ocorrências contabilizadas no mesmo período do ano anterior, que ao final de 2024 registrou 24 problemas físicos. A disparidade é gritante e acende um sinal vermelho para a gestão da saúde e performance dos atletas.
Para ilustrar a dimensão do problema, a tabela abaixo detalha a comparação entre os primeiros meses de 2024 e 2025:
Indicador | Jan a 24 de Mai de 2024 | Jan a 24 de Mai de 2025 | Observações em 2025 |
---|---|---|---|
Quilômetros percorridos em viagens | 31,9 mil km | 45,8 mil km | Quatro viagens internacionais |
Semanas consecutivas com dois jogos | Cinco semanas | 19 semanas | Sem semanas abertas de treino |
Jogos oficiais | 32 | 38 | Aumento de 30% em corridas de alta intensidade |
Lesões confirmadas | Oito lesões (24 no ano inteiro) | 15 lesões* | Nenhum registro de lesões reincidentes. Desde fevereiro, Rogério Ceni teve uma média de 90% do elenco disponível |
Intervalo de horas entre jogos | 100 horas | 80 horas | Um jogo a cada 3,3 dias |
*Concussão de Marcos Victor computada como problema de departamento médico.
A diretora do Departamento de Saúde e Performance do Bahia , Natalia Bittencourt, oferece uma perspectiva sobre a complexidade do desafio. Ela enfatiza que o cenário atual é "desafiador" e detalha os múltiplos fatores que convergem para o aumento das lesões:
"Atualmente nós temos um cenário desafiador. Somos o time que mais jogou na temporada de 2025. Aliado a isso, o intervalo entre os jogos reduziu, assim como o aumento do número de semana cheias. Os jogos de 2025 têm sido marcados por maior demanda física, especialmente pela participação na Conmebol Libertadores, sem contar no aumento estimado na quilometragem percorrida em deslocamentos."
A Gestão do Desgaste: Estratégias e Desafios
Diante desse panorama, o clube tem implementado medidas para mitigar os efeitos da exaustão. Pela primeira vez em sua história, o Bahia fretou 100% dos voos para partidas fora de casa, uma iniciativa que visa otimizar o tempo de recuperação e minimizar o desgaste das viagens. O técnico Rogério Ceni, por sua vez, tem adotado uma política de rodízio e poupado jogadores sempre que a situação permite, como visto nos confrontos da Copa do Brasil contra o Paysandu, nos quais utilizou um "time alternativo".
Ainda assim, a lista de atletas que já passaram pelo departamento médico em 2025 é extensa:
- Gabriel Xavier - lesão no joelho e lesão na panturrilha
- Marcos Victor - concussão
- Michel Araújo - duas lesões na coxa
- Santiago Arias - duas lesões na coxa
- Ademir - desconforto muscular e lesão na coxa
- Iago Borduchi - lesão na coxa
- Kanu - lesão em três músculos da panturrilha e no Tendão de Aquiles
- Ronaldo - lesão na coxa
- Gilberto - lesão na coxa
- Rezende - lesão na região lombar
- Erick - lesão na coxa
Natalia Bittencourt ressalta um dado relevante: nenhuma das 15 lesões registradas em 2025 é reincidente, o que sugere um controle eficaz sobre a recuperação dos atletas. Ela também contextualiza a situação do Bahia em comparação com ligas de alto nível:
"Apesar disso, nós estamos trabalhando de forma científica para fazer uma gestão eficiente das lesões. Por exemplo, em clubes da Uefa, a taxa de lesão chega a ser uma a cada 1,5 jogo, mesmo com uma média inferior no número de partidas na temporada. A nossa está em uma lesão a cada 2,7 jogos. E o nosso trabalho diário, seja para reduzir esse número ou evitar novos casos, segue feito de maneira integrada com a comissão técnica, diretoria e equipe multidisciplinar do Departamento de Performance e Saúde."
A Busca por um Respiro: O Anseio pela Pausa
Diante do calendário exaustivo, a comissão técnica e os atletas do Bahia aguardam ansiosamente pela pausa do Campeonato Brasileiro, prevista para a disputa da Copa do Mundo de Clubes entre junho e julho. Até lá, o Tricolor tem mais seis compromissos cruciais: Grêmio, São Paulo, Bragantino (Brasileiro), Internacional (Libertadores), Confiança e Náutico (Copa do Nordeste).
Rogério Ceni expressou claramente a estratégia por trás da rotação de elenco e a importância desse período de descanso:
"O que nós fizemos (descansou titulares contra o Paysandu) foi justamente para tentar preservar e não ter mais lesões até 12 de junho para ter descanso de duas semanas e preparar o time para a segunda parte do ano."
A contagem regressiva para um merecido alívio já começou, com o próximo desafio diante do Grêmio em Porto Alegre, seguido de um confronto decisivo pela Libertadores contra o Internacional. O Bahia , assim como outros clubes brasileiros, navega em águas turbulentas, onde a performance em campo é intrinsecamente ligada à capacidade de seus atletas de suportar a carga física e mental imposta por um calendário que parece não dar trégua.
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