Bahia Feminino x Corinthians: Entenda a Decisão de Jogar em Aracaju e os Desafios Logísticos

A inédita e histórica classificação do time feminino do Esporte Clube Bahia para a fase de mata-mata do Campeonato Brasileiro da Série A1, marcando a primeira vez que um clube nordestino alcança tal feito, paradoxalmente, não contará com o apoio irrestrito de sua torcida em solo baiano. O confronto de ida das quartas de final, agendado para este sábado contra o Corinthians, terá como palco o Estádio Estadual Lourival Baptista, o Batistão, localizado em Aracaju, Sergipe. Uma decisão que levanta questionamentos sobre a infraestrutura esportiva local e os percalços enfrentados pelo futebol feminino.

Embora as "Mulheres de Aço" já possuam certa familiaridade com a atuação fora de Salvador, tendo disputado grande parte da fase inicial do Brasileiro em Feira de Santana, a aproximadamente 110 quilômetros da capital, a jornada até Aracaju representa um deslocamento significativamente maior. A distância de 323 quilômetros até a capital sergipana impõe um desafio logístico e financeiro adicional a uma equipe que já superou inúmeras barreiras para chegar a este patamar.

Os Obstáculos em Solo Baiano: Por Que Não em Casa?

A escolha por Aracaju não se deu por acaso, mas sim pela ausência de alternativas viáveis dentro do próprio estado da Bahia . O Estádio Joia da Princesa, em Feira de Santana, que serviu de casa para a maioria dos jogos do Bahia na primeira fase, foi descartado devido a uma limitação fundamental: sua estrutura não permite a realização de eventos noturnos, e o confronto contra o Corinthians está marcado para as 18h (horário de Brasília).

Outra opção na mesma cidade, a Arena Cajueiro, também se mostrou inadequada. As exigências para jogos de mata-mata da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino estipulam uma capacidade mínima de dez mil espectadores. A Arena Cajueiro, que pertence ao Bahia de Feira, comporta apenas sete mil pessoas, tornando-a inviável para um duelo tão importante. Em contrapartida, o Batistão, em Aracaju, oferece uma capacidade de 15.575 torcedores, atendendo plenamente aos critérios da competição.

Foto: (Rodrigo Gazzanel/Corinthians)

A Indisponibilidade dos Grandes Palcos da Capital

Em Salvador, as possibilidades se mostraram igualmente restritas. A Casa de Apostas Arena Fonte Nova, palco de uma única partida do Bahia feminino na primeira fase ? a vitória por 3 a 1 sobre a Ferroviária pela 13ª rodada ?, seria uma alternativa natural. No entanto, o calendário de jogos impediu seu uso: no mesmo dia e horário, o time masculino do Tricolor estará em campo contra o Fluminense, pela 19ª rodada do Campeonato Brasileiro, ocupando o estádio.

Restam, então, na capital baiana, o Barradão, pertencente ao rival Vitória, e o Estádio de Pituaçu. O primeiro, por razões óbvias de rivalidade e logística, sequer foi considerado. Já Pituaçu, que recentemente retomou a realização de jogos oficiais após quase um ano de desativação, enfrenta um impedimento crucial: a ausência de autorização do Ministério Público da Bahia (MP-BA) para receber público, um entrave que persiste devido a pendências estruturais e de segurança.

O Impasse do Estádio de Pituaçu: Recomendações Ignoradas

O retorno completo do público ao Estádio de Pituaçu está condicionado ao cumprimento de uma série de medidas recomendadas pelo Ministério Público da Bahia , que ainda não foram plenamente atendidas pela Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), responsável pela gestão do local. Essas exigências visam garantir a segurança e a adequação do equipamento esportivo. Abaixo, as principais recomendações expedidas em janeiro de 2025 pelo MP-BA ao Estádio Metropolitano Governador Roberto Santos (Pituaçu):

Área	Recomendação do MP-BA para Pituaçu
Segurança	Adoção de rotina de interrupção de partidas e evacuação da plateia em caso de tempestades.
Segurança	Elaboração de novo projeto de proteção contra descargas atmosféricas.
Estrutura	Substituição do alambrado que isola o gramado das arquibancadas por vidro temperado.
Higiene	Troca das portas de madeira danificadas dos banheiros.
Higiene	Instalação de bebedouros de material lavável, com água potável e acessíveis (1 para cada 500 pessoas).
Controle	Implantação de sistema de monitoramento por imagem nas catracas com identificação biométrica.

Em audiência realizada em 29 de julho, a Sudesb comunicou que algumas das medidas foram cumpridas e que a substituição do alambrado e a aquisição das catracas com biometria estão em andamento, sem, contudo, estabelecer um prazo definitivo para a conclusão. Diante desse cenário de incertezas e pendências, o Ministério Público recomendou à Sudesb e à Federação Baiana de Futebol que as partidas no estádio ocorram sem a presença de público até que todas as exigências sejam atendidas.

Portanto, diante do quadro de indisponibilidade e inadequação das praças esportivas na Bahia , a solução encontrada para o confronto decisivo do Bahia feminino contra o Corinthians foi o Estádio Batistão, em Aracaju. A partida, que marca o início da fase de mata-mata para as Mulheres de Aço ? que terminaram a primeira fase na sétima posição, enquanto as paulistas ficaram em segundo lugar ?, ocorrerá às 18h (horário de Brasília) deste sábado, reforçando a complexidade e os desafios inerentes ao desenvolvimento do futebol feminino no cenário nacional.